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Casa preserva a história de cinco gerações em Venâncio Aires
05/09/2020 às 09h04minNa estrada principal de Linha Cecília, próximo ao monumento de Imigração, está uma casa construída em 1922. Não é apenas o fato de estar próxima do centenário que a torna especial, mas também a forma como a história da família segue preservada de geração para geração. Hoje, a porta, os móveis, as janelas, a pintura, o assoalho e o telhado, de aproximadamente três mil telhas, ainda são os mesmos escolhidos pelo casal fundador, Henrique e Anna Umann, há 98 anos. Todos os itens são conservados com carinho pela quarta e quinta geração que se orgulham por guardar a história da grande família.
Com quase 20 metros de comprimento, a casa é cuidada pela bisneta Lori Scheibler Vogt, 57 anos, o marido Beno Vogt, 47 anos, e o filho, Maurício, 18 anos. A grande construção, no topo de um morro, já foi palco de grandes eventos da família, como casamentos, comunhões, festas de kerb e outros momentos tristes, como velórios. Na sala de estar, por exemplo, está uma espécie de ‘parede móvel’ que, segundo Lori, era movimentada conforme a ocasião. “Os homens ficavam aqui jogando carta e as mulheres na cozinha jogando loto. Quando tinha festa abriam a parede e isso aqui se transformava em um grande espaço. A mesa ainda é a mesma usada pelos bisavós”, recorda.
Para a família, a casa é um local para manter viva a tradição e história de um imigrante alemão e seus descendentes. No entanto, aqueles que passam na estrada principal pensam que a estrutura já foi um salão de baile pelo tamanho.
Lori é a quarta geração da família que mora na casa. Local onde nasceu, cresceu e viu o filho crescer. “Eu não me vejo fora daqui. Enquanto puder manter essa casa, vou manter. É a história da minha família que está aqui”, ressalta a aposentada.
Para o filho do casal, a quinta geração da família, o desejo é de permanecer para que a memória dos antepassados siga sendo preservada. “É uma pena se desfazer dessa casa, não sabemos o que vai acontecer com a história, por isso pretendo ficar aqui enquanto conseguir”, diz Maurício.
O sonho da mãe é que a família siga sendo construída na mesma casa. “Quero ver meus netos e bisnetos, assim como eu e meus primos crescemos aqui”, diz Lori que é casada, há 19 anos, com o marido que conheceu durante um baile de Carnaval, em Linha Brasil, localidade vizinha.
A casa das dez mulheres
Josef Umann apostou em Linha Cecília para começar a ‘desbravar’ Venâncio Aires. Vindo da Alemanha em 1877, ele desembarcou em Montevidéu, sendo um dos primeiros a chegar no município. Construiu uma pequena residência de chão batido no coração de Linha Cecília, próximo onde hoje está localizado o salão da comunidade e na encosta do morro em Monte Belo e no mesmo terreno o filho, Henrique, construiu a grande casa, onde morou com a esposa Anna.
Na época, com oito filhas e um filho, Henrique ergueu uma casa com oito janelas para que cada filha tivesse a sua janela virada para a estrada. A porta era do filho. Quando nasceu a nona filha, ela precisou dividir a porta com o irmão.
Henrique e Anna tiveram dez filhos: Elina, Otilia, Paulina, Emma, Rosa, Hilda, Frida, Leopoldina, Lydia e Benno. Emma se casou com Carlos Scheibler, dentre os filhos, tiveram o Raymundo, que se casou com Lúcia e teve dois filhos: Lori e Luís Carlos.
LORI SCHEIBLER VOGT – Aposentada
“Hoje todas as janelas da casa são minhas.”
Lori conta que em frente à residência o bisavô plantou quatro coqueiros. “A vó sempre contava que esses coqueiros serviam para os pretendentes das irmãs amarrarem os cavalos. Primeiro, quatro precisariam casar para as outras casarem”, lembra. Os coqueiros já não existem mais, pois tiveram que ser removidos devido à altura e o perigo que estavam causando para a estrutura da residência.
Todas as filhas de Henrique nasceram e casaram na casa das oito janelas. Construção que pode ser chamada de ‘casa das dez mulheres’, pois eram nove filhas e a mãe.
Memórias
Lori guarda muitas recordações pois viveu ao lado dos avós e dos pais durante um longo tempo. Ela lembra que Carlos e Emma vendiam diversos produtos coloniais na cidade. Já os pais, iniciaram com a cultura do tabaco e da soja, mantida por ela e seu marido até 2018.
Um dos momentos mais marcantes na casa, de acordo com Lori, são as festas de kerb preparadas pelos avós. “Juntava toda a família e até uns conhecidos”, conta. Algumas tias e tios moravam na localidade, por isso o contato com os primos era constante, já os demais moravam em outras regiões do município e fora do estado. Hoje, além de Lori, o irmão também mora na mesma área de terra e é produtor de leite.
Recordações da família também são visualizadas nas paredes da sala de estar onde estão pendurados quadros com fotografias dos pais, avós e bisavós. Uma prateleira embutida na parede e fechada com vidro também coleciona objetos e porta-retratos antigos.
As paredes internas da casa são decoradas com uma pintura feita à mão. Os desenhos de flores em tons terrosos e ramos verdes são o contorno na parte superior e inferior da residência.
Curiosidade
- A casa, construída em 1922, nunca recebeu uma pintura por fora.
- Uma das únicas manutenções feitas pela família Vogt foi a troca da fiação elétrica.
- Mesmo com 20 metros de comprimento, a residência possui apenas quatro quartos. No entanto, todos os cômodos são grandes e espaçosos.
- Em um dos quartos, por exemplo, ainda está o armário e uma cama de ferro deixados pelos bisavós.
- A família ainda utiliza um fogão a lenha que foi adquirido em Porto Alegre, pela avó Emma Scheibler.
- Além dos móveis antigos o fogão é preservado pela família (Foto: Rosana Wessling/Folha do Mate)
- Logo na entrada da residência, na porta principal, além de um espaço para colocar os guarda-chuvas e chapéus, está um cômodo para guardar os apetrechos dos cavalos.
- A família Vogt preservou, nos fundos da residência, tanques de água natural que eram utilizados para lavar as roupas antigamente.
- A casa, com 20 metros de comprimento, possui um porão. Segundo Lori, o espaço era utilizado pelo bisavô para guardar os barris de vinho. As recordações são de um grande parreiral.
- O tataravô de Lori foi um dos fundadores da Associação de Leitura e Canto Jovialidade em Linha Andréas. E na sequência, ajudou a fundar a entidade de Linha Cecília.
Créditos das fotos: Rosana Wessling - Jornal Folha do Mate
Créditos dos textos: Ana Carolina Becker e Rosana Wessling - Jornal Folha do Mate
Fonte: Jornal Folha do Mate
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