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Dia Internacional do Portador de Deficiência: histórias de superação

03/12/2020 às 17h53min

Muitas pessoas não sabem, mas a data de hoje tem uma comemoração pra lá de especial. O 3 de Dezembro é o Dia Internacional do Portador de Deficiência, são pessoas que possuem um impedimento de médio ou longo prazo que pode ser de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, e que pode ser uma barreira para sua interação e participação plena e efetiva na sociedade de forma igualitária a de outras pessoas. Se você quer conhecer histórias de superação e verdadeiras lições de vida, confira os relatos a seguir:


A determinação de Dedé

Nosso primeiro entrevistado é Marcio José de Freitas, mais conhecido como Dedé, de 44 anos, ele é portador de uma deficiência física devido complicações na hora do parto que atingiram a parte motora. Marcio mora com sua mãe e seu pai e seu passatempo favorito é andar pelas ruas do bairro para conversar com vizinhos e amigos. Neste ano, Dedé se destacou concorrendo como Vereador em Venâncio Aires, lutando pela busca de mais acessibilidade, melhorias na cidade e principalmente, quando viu na política a melhor forma de trabalhar e conseguir se manter, pois o benefício que recebia do governo foi cortado após o pai se aposentar.


A mãe conta que recorreram duas vezes para voltar com o benefício que ajudava Dedé com seus mantimentos e necessidades, “ele mesmo colocou rampas aqui em casa com o dinheiro que estava recebendo”, fala a mãe de Dedé que nunca trabalhou fora, mas agora procura um emprego para ajudar na despesas de casa.


Marcio é formado no ensino fundamental pela escola Crescer e diz que sempre foi tratado de forma igualitária com os outros alunos. Na época, a mãe conta que o levava com uma charrete adaptada para a escola, pois não tinha a cadeira motorizada. Inclusive, a cadeira, que é trocada a cada dois anos, é doação de um programa realizado pelo Serviço de Reabilitação Física da Unisc em um convênio firmado com o Ministério da Saúde e com o Governo do Estado.


A força de vontade de Dedé chama atenção e conta a mãe que ele é muito independente, até se desloca sozinho pela cidade com o urbano que passa no bairro. “Ele sempre teve bons amigos, parcerias e muita liberdade”, destaca. Marcio ainda aproveita o momento para agradecer por cada voto que recebeu: “Quero agradecer de coração a todas as pessoas que confiaram no meu trabalho e me deram seu voto. Temos que lutar sempre e nunca desistir e sempre que quisermos algo, temos que correr atrás”.


Aos olhos de Luis

Nosso segundo entrevistado é Luis Alexandre de Oliveira de 37 anos, ele é portador de deficiência visual devido um glaucoma na visão, que aconteceu quando tinha 9 anos de idade. Em conversa com Luis, nos contou que seu dia a dia é normal e na medida do possível realiza todas as atividades que consegue, ajuda a mãe nas tarefas de casa e inclusive realiza com maestria atividades que ninguém imagina, como usar o martelo para pregar um prego e prender o varal de casa na parede. Na casa moram Luis, sua mãe e sua tia, irmã de seu pai que faleceu há um ano.


Iniciou seus estudos na Associação de Cegos Louis Braille em Porto Alegre, momento que se alfabetizou no sistema de escrita braile em 1992, estudou também na Escola 11 de Maio e depois começou a frequentar a sala de recursos, inicialmente em Santa Cruz do Sul e depois em Venâncio Aires na Escola Monte as Tabocas. Luis se formou no ensino médio em 2003 pela Escola Crescer. Conta ainda que todo seu ensino fundamental e médio foi sem o uso de tecnologias que existem hoje, apenas usando a reglete, que é um instrumento parecido com uma régua, usado para encaixar a folha e fazer a escrita do braile com a punção que vai marcando os pontos na folha. Hoje, Luis possui um celular próprio que através de aplicativo responde aos seus comandos.


A simpatia e disposição de Luis impressiona. Enquanto estávamos em sua casa, fez questão de escrever nossos nomes em braile e ainda leu uma carta. Também explicou o funcionamento do Soroban, um ábaco japonês usado para fazer operações matemáticas, “faço todas as contas aqui de casa e dá certo, isso é bom porque trabalha meu raciocínio”, conta.


Luis não usa a bengala para deficientes visuais, dentro de casa se desloca com facilidade e só sai para a rua acompanhado da mãe ou de outra pessoa que o auxilia. Sobre preconceitos, Luis fala: “nunca tive problemas, claro que preconceito sempre tem, mas não tenho queixa de nada, sempre sou tratado muito bem por onde passo, seja em bancos, lojas ou mercados.


Para Luis todos os dias são boas experiências e trazem mais aprendizados. “Não adianta eu ficar revoltado com o mundo por causa da deficiência, isso não vai mudar minha situação. Eu que tenho que aprender a conviver comigo, não adianta eu ficar de cara amarrada, não falar com ninguém, as pessoas não tem culpa, tenho que levar da melhor maneira possível”, explica.


Uma professora mais que especial

Silvania Maria Laissmann é professora aposentada e atuou na sala de recursos da escola Monte das Tabocas, momento em que Luis foi seu primeiro aluno após tantos que também integraram o grupo especial. Silvania participou de um curso em Porto Alegre no ano de 1994, onde aprendeu o braile e adquiriu conhecimentos para prestar auxílio aos deficientes visuais de Venâncio Aires.


A professora chegou a atender 23 alunos na sala de recursos, que tinha o objetivo de colocar o aluno especial em igualdade com os demais alunos na realização de tarefas, portanto, todas as atividades da aula eram adaptadas para que os deficientes visuais pudessem ter a relação visual e gráfica e acompanhar os colegas. A sala de recursos era uma extensão da sala de aula, e após a professora se aposentar em 2016, não houveram mais professores capacitados para assumir o trabalho. Assim, o projeto acabou não acontecendo mais e todos os materiais voltaram para a coordenadoria do Estado.


Hoje, Silvania e demais pessoas se reúnem para reativar a Associação dos Deficientes Visuais de Venâncio Aires e assim prestar auxílio aos que precisam, porém os desafios são muitos e aguardam ainda contrapartidas de ajuda por parte da Prefeitura do município. Luis também lamenta que a sala de recursos não exista mais para que outros deficientes visuais tenham essa oportunidade.


Créditos das fotos: Willian de Oliveira - Portal Guia Venâncio

Créditos dos textos: Luana Schweikart - Portal Guia Venâncio

Fonte: Portal Guia Venâncio

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