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Bacia do Arroio Castelhano abrange mais da metade da área de Venâncio Aires
08/05/2021 às 11h15minA bacia hidrográfica do Castelhano abrange 578 quilômetros quadrados, o que compreende aproximadamente 54% da área do município. Apesar da abrangência e da relevância do arroio, que é o principal manancial que abastece a população venâncio-airense, ainda são poucos os estudos e as pesquisas sobre o Castelhano.
A falta de informações chamou atenção do engenheiro de minas e doutorando em Geotecnia Fernando Alves Cantini Cardozo, 29 anos, quando ele atuou na secretaria de Meio Ambiente de Venâncio Aires, em meados de 2016. O morador de Porto Alegre desenvolveu uma pesquisa com base em alguns dos poucos dados sobre o arroio. O resultado da pesquisa deu origem ao artigo ‘Caracterização da bacia e do Arroio Castelhano: disponibilidade hídrica, riscos de inundações e interação com a cidade de Venâncio Aires’, em julho do ano passado, na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).
“Histórico do nível do Castelhano é uma coisa que o município não tem. É tudo por olhômetro e dedução, nada concreto”, lamenta o engenheiro. Ele ressalta ainda que falta um conhecimento técnico do Arroio Castelhano.
Esses estudos, segundo Cardozo, ajudariam a amenizar problemas como cheias e assoreamentos (sedimento de terras, árvores, areias e outros). “Fiz uma pesquisa que foi publicada pela Unisc, que era para ter um melhor embasamento sobre o arroio. Saber qual limite da bacia, como é a rede hodográfica do Castelhano, qual declividade dele e outros pontos. Só que muitos dados são repassados até para quem pesquisa por base em um histórico não oficial”, observa Cardozo.
INUNDAÇÃO
Os dados geológicos, segundo o engenheiro, mostram que a água desce com alta velocidade da parte da serra do município, carrega sedimentos e no meio da bacia, que fica na área urbana, ela perde a declividade e deposita os elementos na região. Isso dificulta a passagem da água, que acaba subindo pelas margens e causando inundações e enchentes.
As inundações causadas principalmente em áreas baixas do perímetro urbano, podem ser evitadas com os dados, para novas ações serem tomadas e ter uma solução estrutural no arroio. “No momento a solução adequada é o desassoreamento, que vai retirar um pouco dos sedimentos e deixar a água seguir o percurso sem impedimentos”, frisa.
Essas inundações, segundo o engenheiro, são algo natural que o município vai conviver. Os espaços urbanos que têm enchentes são delimitações do arroio que foram usadas para loteamentos, por isso, ela indica que o município delimite alguns locais, para não se tornarem de uso da população construir. “Tem que deixar uma área onde a cidade não vai se aproximar, mais Zonas de Preservação Ambiental (ZPAs). Pois isso já foi mudado para ser ocupada por residência e isso não se deve fazer, deve ser traçado os ZPAs e não ser mudado”, argumenta.
Vegetação
- Cardozo lamenta que em muitos pontos do Arroio Castelhano há carência na vegetação ciliar, que são as árvores que protegem o arroio. A situação é mais crítica nos afluentes do arroio, que possuem menos mata ciliar ainda. “Eu visitei muitos desses locais e chegava lá e via pouquíssimas árvores, quase nada perto de como deveria ser. E isso contribui para a velocidade de água”, expõe.
“Até chegar na torneira, passa por muitos
processos”, diz engenheiro sobre a água.
O doutorando em Geotecnia Fernando Alves Cantini alerta que toda água que vem do Castelhano recebe um imenso tratamento para se tornar potável. “As pessoas precisam ter consciência e lembrar que a água que elas tomam é aquela da ponte que elas passam no Grão-Pará e outros locais. E até chegar na torneira, ela passa por muitos processos”, complementa.
Ele frisa a importância de ter consciência no consumo de água. Pede que a população e não utilize ela para fins menos nobres, como lavagem de carros e calçadas. Para isso, ele orienta utilizar água reaproveitada. “Usamos a água boa, que vem direto da torneira para lavar o carro, mas poderia captar água da chuva e usar ela. Porque estamos desperdiçando todo tratamento que ela recebeu ali e logo vai se misturar com esgoto e um pouco voltará ao arroio, com mais resíduos”, explica.
“É preciso investir mais nele, para termos caracterização. A gente só vai conseguir tomar uma medida com precisão quando tivermos os dados corretos do Arroio Castelhano. ”FERNANDO ALVES CANTINI CARDOZO
Engenheiro de Minas e doutorando em Geotecnia
CURIOSIDADES
- O Arroio Castelhano, assim como outros do Sul do Brasil, fica em cima do Aquífero Guarani. Porém, Cardozo enfatiza que antes desse aquífero existem outros, que formam camadas anteriores e mais próximas do Castelhano. “Ele está mais a fundo do que outros aquíferos que a cidade capta água. Não sei a distância exata, mas mais de 500 metros é certo. O que torna muito difícil pegar água dele”, explica o profissional.
- Venâncio Aires tem grande quantidade de poços artesianos, segundo o engenheiro de minas. Mas isso não prejudica o arroio. “Porém, mesmo assim, o maior recurso de água do município é por meio do arroio, pois mesmo com poços, muitos deles estão inapropriados para consumo, principalmente no interior”, relata Cardozo.
- O engenheiro salienta que o controle do nível do arroio também deveria ser mais preciso, com uso da tecnologia que já é disponível no mercado. Pois geralmente o nível é medido por moradores. “O morador de uma localidade olha o nível todo dia, mas isso pode ser por tecnologia e pode avisar quando estiver alto, para que os moradores de regiões atingidas pelas enchente se organizem melhor.”
Projeto Nascentes
A preservação do arroio Castelhano é tema central do projeto ‘Nascentes: nossa água, nosso futuro’, desenvolvido pela Folha do Mate e Terra FM. A iniciativa tem o apoio da Corsan, Prefeitura de Venâncio, Unisc, Condusvale e Frigorífico Kroth.
Créditos das fotos: Divulgação - Jornal Folha do Mate
Créditos dos textos: Eduarda Wenzel - Jornal Folha do Mate
Fonte: Jornal Folha do Mate
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