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As recordações da fábrica de gazosa em Centro Linha Brasil

13/10/2020 às 15h21min

As lembranças do agricultor aposentado Renato Müller, 70 anos, contam fragmentos da história da família Bencke. O morador de Centro Linha Brasil é bisneto do primeiro imigrante alemão da localidade, Christian Heinrich Bencke. Müller recorda que a mãe, Amanda, sempre contava que o bisavô instalou o primeiro alambique na comunidade. “Depois meu avô Fernando criou a cervejaria junto da fábrica do Christian. Ainda tenho a lembrança do rótulo da gazosa.


As garrafas de refrigerante na época, de vidro, eram fechadas com uma espécie de bolinha. “A mãe me contava que as crianças iam no depósito e tomavam o refri escondido. Daí, quando os adultos iam vender, viam que as garrafas já tinham sido abertas”, recorda, aos risos.


Casado há 49 anos com Shirlei, Müller relembra que, quando era criança, ele e os amigos encontravam garrafas em galpões e nas casas durante as brincadeiras, mas a fábrica não existia mais. “Lembro que eles mesmos faziam os ingredientes de cascas, sementes, ingredientes próprios para cerveja e o refrigerante.


Fábrica na picada

Quando a mãe de Müller era pequena, a fábrica já tinha sido extinta, mas o dom pela tradição de fabricar a famosa cachaça de alambique estava na família. Há cerca de 30 anos, vinte membros da comunidade de Centro Linha Brasil e Linha Isabel se reuniram para instalar uma fábrica de cachaça na picada.


Müller lembra como tudo começou. “Estávamos entusiasmados, fretamos um caminhão e fomos comprar mudas de cana-de-açúcar em São Martinho, em Santa Cruz do Sul. Voltamos com ele cheio de mudas e enchemos as terras com cana.


O interesse em instalar a fábrica levou o grupo a outros municípios como Santa Rosa e Santo Cristo, para visitar agroindústrias. Como na época não existiam opções de financiamento em comparação à época atual, com juros mais baixos e planos acessíveis para o produtor, Müller diz que o projeto não foi para frente. “Compramos máquina, instalamos tudo e a cana estava pronta na roça. Mas não conseguimos tirar o projeto do papel, faltou investimento em máquinas e regularização. Como alternativa, decidimos fazer melado, mas fomos frustrados, pois a cana era específica para alambique, não melado, pois ela era muito doce e ficava um melado escuro.


A solução encontrada pelos sócios foi ‘abandonar’ o projeto e vender a cana-de-açúcar para alambiques da região. “É uma pena que não deu certo, pois seria um avanço para nossa picada. Imagina se a gente tivesse um alambique na comunidade hoje.


O desejo de instalar fábrica de cachaça era grande, pois Müller acreditava que o empreendimento iria fortalecer a comunidade e muitos dos sócios tinham o dom e os segredos para preparar uma boa cachaça de alambique. “Naquela época, era tudo manual, mas a gente tinha vontade, só não deu certo pois era a fase do associativismo. Se fosse agora, com a agricultura familiar, teríamos conseguido”, lamenta o agricultor aposentado.


Créditos das fotos: Rosana Wessling - Jornal Folha do Mate

Créditos dos textos: Rosana Wessling - Jornal Folha do Mate

Fonte: Jornal Folha do Mate

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