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Venâncio Aires assiste quase 260 imigrantes
02/03/2021 às 09h51minSolo fértil, com novas oportunidades de vida e povo acolhedor são características atribuídas à região quando passou abrigar alemães, italianos e açorianos, entre outras nacionalidades, em séculos anteriores. Agora, o fluxo migratório voltou a ganhar novos contornos, em virtude da crise política e socioeconômica vivida, principalmente, em países da América Latina.
A Capital do Chimarrão já acolhe quase 260 imigrantes. São pessoas oriundas da Venezuela, Haiti, Argentina, Colômbia e El Salvador. São pessoas que precisaram largar tudo para verem seus filhos crescerem com maior estabilidade e seguros. Viram no Brasil a chance de dar um sentido diferente em suas vidas.
Para Venâncio Aires, migraram professores universitários, engenheiros, enfermeiros e executivos, entre outros. Mesmo, que por força de legislação, não tendo as suas formações profissionais reconhecidas no Brasil, já que muitos tiveram, inclusive, seus diplomas acadêmicos retidos em seus países de origem, apostaram na migração. Por conta disso, na Capital do Chimarrão, precisam atuar em atividades completamente diferentes das de suas formações acadêmicas.
Os imigrantes moram em residências provenientes de bairros como Gressler, União, Brands, Coronel Brito, Brígida e Centro. Todos são assistidos pelo setor de acolhimento a imigrantes e refugiados da Secretaria Municipal de Habitação e Assistência Social. Conforme o setor, que existe há um ano, somente no mês de janeiro, a secretaria registrou a média de um novo imigrante acolhido no projeto, por dia.
Além do atendimento na rede pública do Município, como educação e saúde, os imigrantes têm à disposição em Venâncio Aires o acompanhamento a suas famílias, por meio de visitas de profissionais da assistência social, concessão de benefícios eventuais e encaminhamento de documentação necessária para se regularizarem.
A busca por melhores condições de vida e a saudade da família
Yeisa Mariana Molina Vidal, 45 anos e o esposo Manoel Antonio Perez Perdomo, 30 anos, são naturais da cidade de Anzoategui, do Centro Sul da Venezuela e estão em Venâncio Aires desde junho de 2020. Yeisa conta que o maior motivo que os trouxe para o município foi a oportunidade de empregos e os amigos que já estavam na cidade.
Ela é formada em Administração e professora universitária. Ele, engenheiro de Telecomunicações. Apesar da formação, ganhavam muito pouco no país de origem, chegando a passar fome, por isso decidiram arriscar em outro lugar. “O triste foi que, quando chegamos, o que encontramos não foi tudo isso que estavam prometendo”, revela.
Antes de desembarcarem em Venâncio, o casal participou da Operação Acolhida, em Roraima, onde tiveram a oportunidade de fazer todos os documentos necessários para ficar no Brasil. No entanto, lá os venezuelanos também passaram dificuldades, ficaram uma semana nas ruas até conseguirem a documentação para seguir viagem. Depois, trabalharam por alguns meses no município de Lavras do Sul, em uma fazenda de soja.
Quando chegaram na Capital do Chimarrão decidiram iniciar uma nova vida, mesmo não encontrando o emprego prometido. “Fomos muito bem atendidos pela Prefeitura, e todos nos ajudaram”, afirma Yeisa. O primeiro desafio foi achar um lugar para morar e com o auxílio de uma imobiliária conseguiram locar, sem fiador, o apartamento que moram hoje, no centro da cidade. Yeisa começou a trabalhar na CTA Continental Tobaccos Alliance e agora faz parte da equipe de limpeza nas Farmácias São João. Seu esposo, Manoel, trabalha nas safras da empresa Tabacos Marasca.
Saudade
Ao conversar com Yeisa e falar da família, as lágrimas rolaram pelo rosto. A saudade é gigante. O casal deixou na Venezuela os filhos Sebastian, 12 anos; Veronica, 17 anos e Vanessa, 22 anos, além da mãe de Yeisa que cuida das crianças. “Aqui nunca sentimos preconceito, saímos, falamos com pessoas, nos divertimos, mas quando chegamos em casa, a saudade e a tristeza batem forte”, confessa Yeisa. O maior desejo do casal é um dia conseguir trazer a família que ficou na Venezuela.
Política municipal de acolhimento a imigrantes
Começou a ser criado no ano passado e passa por revisão o esboço de projeto de lei para a criação da Política Municipal de Acolhimento a Imigrantes em Venâncio Aires. Um grupo de trabalho inicial foi criado para posterior apreciação por parte dos vereadores.
Responsável pelo setor de acolhimento a imigrantes e refugiados, a assistente social Sandra Andreia Mendonça Soares explica que este projeto de lei se faz necessário, a fim de regulamentar tal atendimento, assegurar direitos e ser ferramenta de inclusão destas pessoas na comunidade venâncio-airense.
Em paralelo existe ainda uma preocupação sobre a reabertura da fronteira do Brasil com a Venezuela, pois, provavelmente, haverá a chegada de um número ainda mais expressivo de imigrantes no município e as políticas públicas devem estar condizentes e preparadas para isto.
Sandra Soares
A responsável pelo setor de acolhimento a imigrantes e refugiados e assistente social Sandra Andreia Mendonça Soares é graduada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul e mestre em Serviço Social pela PUC de São Paulo. É também especialista em saúde integrada com ênfase em atenção básica. Entre outras atribuições, já participou do Conselho Nacional Afro Brasileiro e Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Rio Grande do Sul.
Grupo de Mulheres Imigrantes: uma estratégia de intervenção de acolhimento
O setor de acolhimento a imigrantes e refugiados da Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento Social promove encontros mensais para debater e abordar temas relacionados às questões do empoderamento das mulheres imigrantes residentes no município. Intitulado de ‘Grupo de Mulheres Imigrantes: uma estratégia de intervenção de acolhimento’, o projeto visa possibilitar a participação das mulheres e fomentar a discussão sobre direitos dos imigrantes.
Os encontros buscam integrar as famílias e crianças, na troca de experiências e culturas. Durante as reuniões, que ocorrem na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Odila Rosa Scherer, no bairro União, profissionais do Primeira Infância Melhor (PIM) desenvolvem atividades com os filhos das imigrantes.
Créditos das fotos: Luana Schweikart e Cristiano Wildner - Jornal Folha do Mate
Créditos dos textos: Cristiano Wildner e Luana Schweikart - Jornal Folha do Mate
Fonte: Jornal Folha do Mate
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